Hidden Files

18 de novembro de 1957
Fazem hoje vinte e dois dias desde que começou a nova guerra na Europa. Vinte e dois dias desde que Hitler invadiu a Polónia para poder governar no seu “espaço vital”, o território “legítimo” da Alemanha e dos Alemães “puros”. Todo este discurso, aliás toda esta década só me faz pensar se estamos, coletivamente, a tentar começar a extinção da humanidade, se há, de facto, um desejo de morte, próprio, alheio, coletivo, cada vez mais crescente nas pessoas. A resposta assusta-me.
Por falar em desejo de morte, hoje morreu Sigmund Freud, uma das mentes mais brilhantes dos últimos séculos e um dos pais da psicologia.Digo que o desejo de morte vem a propósito porque, no meio de várias outras coisas, Freud diz que todos nós temos um desejo de morte (Thanatos, do deus grego da Morte), e um desejo de vida (Eros, do deus grego do amor e do sexo), e cada vez mais vejo isto. Mas estes desejos são, supostamente, direcionados a cada um de nós, portanto, todos nós nos auto-destruímos e, ao mesmo tempo, nos tentamos salvar a todo o custo.
Será que Freud pensou se estes desejos também são coletivos? Como, por exemplo, apoiar pessoas que quase pregam o apocalipse como se fosse uma coisa desejável (Hitler, estou a falar consigo) é a manifestação mais óbvia de auto-destruição em que consigo pensar, mas, ao mesmo tempo, investir milhões em armamento e contratar os melhores estrategas para garantir que morre o menor número possível de soldados (numa guerra começada pelos ditos malucos que acham que a guerra é o caminho para um mundo melhor) é uma demonstração óbvia de desejo de sobrevivência.
Freud crê que o Eros é motivado pelas forças primitivas de preservação da vida, de sobrevivência, de alimentação, reprodução e tudo mais. Este desejo, sim, pode ser coletivo, faz parte do Eros contribuir para a “vida” da espécie, ou seja, garantir a sua continuidade. No nosso quotidiano este desejo está em coisas tão básicas como tratarmos da nossa higiene, olharmos para os dois lados antes de atravessarmos a rua ou, coletivamente, votarmos num candidato que defenda a segurança social e a ajuda aos mais pobres. É a “parte boa” desta luta.
Por outro lado, o Thanatos é a procura mórbida (mas inescapável) da morte, “O objetivo de toda a vida é a morte” segundo Freud.O desejo de morte é demonstrado através de agressividade, indiferença e impulsividade com os outros e com os nossos problemas (começar lutas e consumir drogas, por exemplo) ou com a curiosidade inexplicável a comportamentos que nos magoam, como pormos uma mão por cima de uma vela, sabendo perfeitamente o que vai acontecer.
Algo muito interessante sobre o Shell Shock, de que já falei, é que os pesadelos que os soldados da Grande Guerra têm, depois de ficarem traumatizados pelo conflito, em que recriam a mortalidade a o sofrimento da guerra são mais uma manifestação do Thanatos, mas tudo isto ainda é uma teoria.Concluindo, apesar de isto ser tudo algo aberto a discussão, não consigo não ver isto hoje em dia. Isto é apenas uma ponta do icebergue de toda a doutrina dele, e o resto é outro assunto, mas é muito interessante pensar se poderá existir um desejo de morte coletiva e é por isso que o mundo está nestas circunstâncias,ou se pessoas como Hitler podem ser vistas como algo necessário para a sobrevivência da Alemanha (que esteve a maior parte destes vinte anos na miséria). Será que o nosso desejo de morte se manifesta até mesmo nas nossas esperanças de sobrevivência? Enfim, peço desculpa se estou melancólico.
