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6 de julho de 1966

Num livro muito interessante (e muuuuito extenso) sobre a psicanálise dos contos de fadas, li uma coisa interessantíssima. Os contos de fadas funcionavam, em muitos sentidos, da mesma forma que as histórias bíblicas. Ambos evocam da mesma maneira partes do inconsciente e do consciente que estão associadas, e isto deve-se sobretudo à maioria das histórias para crianças terem sido criadas numa altura em que a religião era uma parte muito mais central na vida das pessoas.

 

Assim, as pessoas desde pequenas estão cada vez mais sensibilizadas à ideia de religião e de um “salvador”. Curiosamente, não foi apenas no Cristianismo que isto aconteceu, as Mil e uma Noites, o livro fantástico do Médio Oriente, também está cheio de associações religiosas islâmicas (tal como muitos dos contos dos Irmãos Grimm) mas elas hoje em dia já não têm efeito na sensibilização das massas porque a educação para a religião já não é tão forte.Mas há 150 era, e em muitos casos era a única forma de educação que as pessoas tinham, por isso é fácil imaginar o efeito que isto teria.

 

E ainda mais quando pensamos na importância que a infância tem segundo Freud.Continua o artigo, e avançamos dos aspetos religiosos dos contos de fadas, é postulado que os contos de fadas podem ser uma das melhores maneiras de nos ajudar a lidar com os nossos problemas psicológicos quando somos pequenos.xistem de facto problemas psicológicos em crianças, na integração na sociedades, na aprendizagem a lidar com irmãos  ou porque não se tem a atenção necessária dos pais.

Por exemplo, no Hansel e Gretel, é enfatizado o apego aos pais, a dificuldade em deixá-los e a fixação oral de ambas as crianças, elas encontram uma casa para ficarem e, enfim, comem-na. Sem esquecer o medo que tinham de ser comidos por uma bruxa, isto direciona-se a crianças mais novas que têm medos e pensamentos “irracionais” e também para pessoas que têm uma fixação no estádio oral (como o Hansel e a Gretel, na minha opinião), mostrando que é possível ultrapassar estes problemas de fixação porque no final, a bruxa má que os queria comer, o símbolo de todos os medos irracionais e fixações inconscientes, é derrotada.

 

Por fim, porque se fosse falar sobre tudo o que li, a Guerra Fria acaba primeiro do que eu, acho que uma das coisas mais interessantes do artigo é o papel que os contos de fadas tiveram em manter os papéis tradicionais, e isto pode parecer óbvio mas faz ainda mais sentido quando se investiga um bocadinho. Por exemplo, no conto de fadas mais conhecido do mundo, a Branca de Neve, as mulheres aparecem simplesmente ou como raparigas inocentes muito bonitas ou como mulheres feias, velhas, invejosas e más para as outras mulheres.

 

Até pode haver inveja e estas punhaladas nas costas entre mulheres mas o sistema que criou essa tendência não foi criado por mulheres, foi criado pelos homens, que aparecem como os heróis e os salvadores que vão salvar as mulheres da frivolidade e inveja das outras mulheres.

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