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2/4/2022

Para responder à última pergunta do texto do meu avô: Não sei Avô, mas terias adorado o Twitter e explicar às pessoas como é que se escreve “Psicologia”. Enfim, não sei exatamente para que tipo de sociedade é que estamos a caminhar, mas é muito cedo para essas divagações filosóficas. Quanto ao livro de que o meu avô estava a falar, eu encontrei-o algures no escritório dele e continuei a lê-lo, realmente era grande (acho que o dicionário se calhar tinha mais ritmo do que algumas partes do livro). Mas eventualmente cheguei à minha parte favorita, onde, em cada um dos contos de fadas, o autor analisou os contos de fadas e disse quais das personagens eram o Ego, o Id e o Superego.

 

Isso faz-me pensar o que é que a nossa personagem favorita de cada conto de fadas diz de nós. Se gostamos mais dos vilões estamos a ceder aos nossos impulsos inconscientes? E temos Superegos hiper-moralistas por gostarmos sempre de personagens boazinhas? Vou falar das Mil e uma Noites, de que o meu avô também falou no diário dele, esta é a história mais interessante de analisar porque são, literalmente, mil e uma histórias. É uma complicação gigantesca com muitos volumes, portanto há efetivamente desenvolvimento e profundidade nas personagens, e presumivelmente complica um bocadinho classificar estas personagens. Resumidamente, a história parte de um Rei, Shariar, que, depois de saber que a sua mulher o traía com os seus escravos, perde toda a fé a humanidade e acha que nunca ninguém o amará verdadeiramente.

Portanto, para não dar a oportunidade a nenhuma mulher de o trair, decide que todas as noites dormirá com uma virgem, que é executada no dia a seguir. Eventualmente, não há mais nenhuma mulher com que o rei poderia dormir, só a Sherazade, a filha do vizir do Rei, e ela é a única que sobrevive a estas execuções porque, durante mil noites, conta uma história diferente ao Rei, e ele fica demasiado cativado para a matar. No final, o rei está tão apaixonado pela Sherazade que não a mata e vivem felizes para sempre e tudo mais. Há várias possíveis interpretações para isto, os dois protagonistas podem significar os conflitos internos entre nós entre o nosso desejo de vida e o nosso desejo de morte, o Rei simboliza uma pessoa em modo de auto-destruição que só vive para o prazer, mesmo que isso o esteja a destruir, e a Sherazade significa o nosso desejo de sobreviver, já que ela entrou naquela situação sabendo que poderia morrer de um momento para o outro, mas que, de alguma maneira, conseguiu ser engenhosa o suficiente para sobreviver.

 

Por causa disto, conseguimos perceber que o contraste entre a protagonista feminina e o protagonista masculino não é só entre a sobrevivência e a auto-destruição, também é entre o Id e o Superego. Sherazade representa o Ego que é dominado pelo Superego, ela simboliza uma pessoa equilibrada e altruísta que entrou naquela situação para salvar as mulheres da carnificina que o Rei criou. Ela, desde o início, que tem esperança de mudar o Rei e de o tornar numa pessoa diferente, tal como o Superego passa toda a nossa vida a tentar dominar o Ego e recalcar o Id.

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