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Bem! Estamos quase a acabar a década! Aconteceu tanta coisa, o pós-guerra, a consolidação das democracias, não a nossa, mas um dia, quem sabe. Cada vez mais se vê o anacronismo do Estado Novo, a impaciência com isto tudo cresce e sente-se cada vez mais, só não sei se já chegámos ao ponto de mudança, em que FINALMENTE, teremos democracia. Mas não me quero perder na minha melancolia revolucionária, isso fica para outra altura. Aquilo de que queria falar, na verdade, é muito mais supérfluo. A Marilyn Monroe. Acabei há bocado de ver o Gentlemen Prefer Blondes e tenho de dizer, esta foi a década da Marilyn Monroe. Ela foi uma das pessoas mais seguidas e mais cobiçadas dos últimos 10 ou 20 anos, se calhar até de antes, porque aquilo que a Marilyn Monroe representa é muito interessante, sobretudo em termos psicológicos. Mesmo sendo eu um dinossauro que nasceu antes da Primeira Guerra Mundial, ainda acompanho a cultura popular e vi, em primeira mão, a febre que ela, uma atriz como muitas antes dela e se calhar tão bonita como tantas outras pessoas, provocou em toda a gente, até ao ponto de se tornar na mulher mais famosa do mundo. Isto é fascinante porque, agora que cada vez mais pessoas têm acesso ao cinema, à televisão, a livros a preços acessíveis, já não são só as elites que podem ver estas coisas e saborear a cultura, e o que as massas fizeram com os protagonistas desta nova cultura massificada é profundamente interessante.

Os melhores cantores e as atrizes mais bonitas são mais adorados do que a maior parte dos reis na história, e, honestamente, fico feliz porque grande deles era filho de primos e portanto não seriam, provavelmente, as pessoas mais interessantes para se ter uma conversa com mais de 18 palavras. A influência que eles exercem, isso sim é uma coisa nova. Eles são ao mesmo tempo iguais a nós mas inatingíveis em muitos aspetos. Ao contrário de todos os ídolos passados, eles estão ao nosso alcance, distanciados apenas pelos pequenos pormenores que são vários milhões de dólares e exposição global constante, nada na verdade. E isto não acontece só por causa do tamanho da exposição, que é maior do que nunca, existe outra coisa qualquer, o star factor que não dá muito bem para explicar. Na verdade, não é algo que não tenha precedentes, durante milénios sempre houve o costume de venerar o chefe: o Rei, o Padre ou o Pai (sempre homens, claro, como não?).Mas isso era uma lei, ou um costume tão forte que demoraria gerações a quebrar, será que é isso que são as celebridades? Agora que perdemos a fé na política, na religião e em tudo aquilo que era sagrado até há 30 anos, chegou a altura de as celebridades tomarem o lugar deles e serem os novos ídolos da população?
Ainda hoje, ditadores por todo o mundo gastam milhões em propaganda enganosa, na esperança cada vez mais fugaz de conseguirem fazer as pessoas acreditar que aquilo é o caminho, quando simplesmente, já passou a altura de ditaduras, de comunismo e de fascismo.

18 de novembro de 1957
impacto psicológico dos ídolos nas massas

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