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18 de novembro de 2023

No outro dia, enquanto estava na rua, vi um rapaz, de oito ou nove anos, a jogar um jogo muito barulhento de guerra, cheio de explosões e de sons entranhas a serem projetadas, e, algum tempo depois, os pais dele mandaram-no parar o jogo (graças a Deus, já agora, que aquilo não se aguentava mais) e, quando ele por o jogo em pausa, a imagem congelou num cenário de guerra típico e depois parei de prestar atenção, afinal estava tudo normal. Claro que o psicólogo em mim começou a perguntar porque é que todos os intervenientes desta situação tinham reagido tão bem a ver imagens tão gráficas e sons tão fortes e nenhum de nós, pelo menos aparentemente, se incomodou. E o psicólogo em mim tem razão, isto não é um comportamento normal. Em primeiro lugar, em 2023, é compreensível que as massas não levem tão a peito esta exploração comercial e consumo para entretenimento da guerra. Afinal, quase todos nós crescemos protegidos numa sociedade relativamente pacífica e diplomática, nós não fomos afetados pelas consequências reais da guerra como os nossos pais foram (que ainda viram a guerra fria ou as guerras no leste da Europa, por exemplo), ou os pais deles que podem ter vivido durante a guerra colonial, do Vietname ou até a Segunda Guerra Mundial). Portanto a guerra é uma realidade muito distante de nós, é uma coisa que aprendemos em história e que vemos nos filmes e nos jogos, e atenção é muito bom podermos viver numa época com essa segurança mas isso não desculpa tornarmo-nos tão aceitantes da violência só porque não nos afeta diretamente. 

Indiretamente, ainda nos afeta de várias maneiras, porque ainda existe imensa guerra e imensa violência tão má ou pior do que a que os nossos pais e os nossos avós viram, no Iémen, no Afeganistão, na Ucrânia (que é um país não diferente do nosso). Portanto, acho que ainda não nos podemos dar ao luxo de começar a glamorizar e nos dessensibilizarmos assim da guerra, não quando ainda existe e nós é que simplesmente não estamos a prestar atenção.

Em segundo lugar, e falando mais enquanto psicólogo, a habituação que nós aprendemos a fazer a isto é extremamente danosa, sobretudo em crianças. Estudos (já desde os anos 80) apontam para efeitos secundários de estar regularmente exposto a imagens de violência como:

  • Menos sensibilidade com o sofrimento e dor de outras pessoas;

  • Mais medo do mundo exterior;

  • Maior tendência para comportamento agressivo;  

Além disso, também se pensa que, caso a exposição comece a ser feita antes dos oito anos e continue, por altura da adolescência, o adolescente terá maior tendência para comportamento agressivo e, na idade adulta, maior tendência para ser preso por atividades criminosas. Não são informações fantásticas pois não?

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