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20 de fevereiro de 2024
No outro dia, quando estava a ler uma página do diário do meu avô sobre Stress Pós-Traumático, o Shell Shock da altura, lembrei-me de quão recente é a psicologia, e a neurologia e tudo o que tem a ver com o cérebro. Durante o século XIX e o início do século XX, demos imensa importância a conhecer, efetivamente, o ser humano e estudámos a anatomia, os órgãos e os vasos sanguíneos mas falhámos em conseguir compreender a mente, que se calhar era um conceito demasiado complicado para a época. Provavelmente devo só ficar grato por viver numa época em que sabemos tanto como sabemos.Mas mais concretamente sobre o Stress Pós-Traumático, é uma pena não saber de que livro é que o meu avô falava, é um milagre naquela altura ter havido um livro que tivesse tanta informação tendo em conta que quase não havia nada. Mas, obviamente foram feitos progressos no tratamento e diagnóstico do PTSD, como era necessário porque viu-se que, se os soldados não tivessem acompanhamento psicológico, teriam de ficar hospitalizados por muito tempo mesmo que só tivessem feridas superficiais, com a “Neurose de Guerra”. Começou-se a investigar se o PTSD tinha origens anatómicas ou do passado dos pacientes, ou até proposto (por pessoas que não tinham claramente informação suficiente sobre o assunto) que era só preguiça ou uma birra. Surpreendentemente, quando a Segunda Guerra Mundial rebentou, toda a gente se esqueceu dos progressos feitos, não foram levados psicólogos para as frentes de combate, foram os americanos que, na Campanha do Norte de África em 1943, começaram a normalizar psicoterapia nos soldados. No entanto, houve algo de bom que saiu disto, porque, ao contrário dos sobreviventes da Primeira Guerra, os da Segunda foram intensivamente estudados.
Se acham que eu sou um caso problemático, mal sabem o que vem aí. Preparem-se. Há um bom par de anos, atendi um paciente particularmente estranho. Era só um miúdo. Chamava-se Pedro, tinha 14 anos, e havia sido colocado completamente à força no gabinete da minha pobre psicóloga, que não teve escolha senão a de atender o miúdo. Após algumas sessões com o paciente, tracei o seu perfil, que reunia um conjunto de aspetos perturbadores.
A nível comportamental:
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Dificuldade em cumprir com as normas/convenções/expectativas sociais;
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Incapacidade de distinguir o correto do errado;
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Incapacidade de associar um comportamento as respetivas consequências;
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Falta de remorso/empatia pelos outros;
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Tendência para mentir e manipular os outros;
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Irresponsabilidade, Impulsividade e Agressividade;
A nível da infância:
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Trauma face à morte antecipada dos pais e à vida na instituição;
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A criança foi abusada fisicamente, negligenciada, e separada da família muito cedo;
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Abuso de substancias ilícitas, nomeadamente drogas e tabaco e consumo desmedido de álcool;