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Todos fizeram terapia individualmente comigo enquanto eu estive destacado lá, fiquei extremamente feliz por ver que finalmente estava a haver progresso, todos, à sua maneira, estavam a começar a processar o trauma que lhes tinha acontecido, menos o João, ele não conseguia descrever nada do que lhe tinha acontecido relativo à Guerra, dizia que o pai estava de férias, que a escola dele (que fechava ocasionalmente por causa dos bombardeamentos) fechada por causa de obras. Eu não sabia como o tratar, ele estava num estado tão profundo de negação que eu não sabia como o tirar de lá, e quais seriam os efeitos de o tirIsto continua durante 3 meses até que ele teve um ataque de ansiedade muito intenso, ele de repente lembrou-se de tudo e todas parecia que todas as emoções que não expressou durante estes meses estava a expressar agora, isto chegou a um estado tão grave que ele teve de ser sedado e ficou uma noite no hospital, eu estava a trabalhar portanto ia ver como é que ele estava ocasionalmente. 

Só depois disto é que conseguimos começar a fazer progressos na terapia. Os irmãos dele, que já eram mais velhos, eventualmente também foram combater e fiquei só com ele e com a mãe dele como pacientes, enquanto eles precisaram.

Claro que não fiquei em França a Guerra toda portanto tivemos de nos despedir e foi tão tão difícil, como é que seria fácil despedir-me de pessoas com quem me preocupei tanto?

O João já não era um miúdo, já tinha barba e a voz grossa e, de repente, já era mais alto que eu. Mas teve de acontecer, eu continuei a minha vida e eles continuaram a deles e tenho muitas outras histórias sobre o que me aconteceu a seguir. Achei que nunca mais os veria, até receber o convite para o casamento dele há uns meses. Nem queria saber como é que ele me tinha encontrado, estava só feliz e respondi que sim.​

O casamento foi muito bonito, a comida foi a melhor parte, ah disso nunca me vou esquecer, e achava que não podia ficar mais feliz, isto é até ter tido uma certa conversa com a minha mulher ontem: "O que é que vamos chamar ao bebé?". Se fosse um rapaz gostava que se chamasse João. Não sei se a minha mulher vai gostar, enfim, veremos.

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