Hidden Files


Por último, os psicólogos. Os psicólogos foram a maior força destrutiva ou construtiva na experiência, podendo parar o que os guardas estavam a fazer ou libertar prisioneiros, mas escolheram não o fazer durante a maior parte do projeto. Porquê? Responder a isto é dizer se a experiência valeu a pena ser feita ou não, se os maus tratos que os prisioneiros sofreram foram um sacrifício que valeu a pena para o progresso científico proveniente das conclusões da experiência. E eu acho que sim, apesar dos maus-tratos e dos problemas éticos (e achando que deveria ser posto um travão a certo ponto das agressões), acho que a experiência foi importante para mostrar aquilo de que somos capazes quando nos dão poder. Quando fizeram entrevistas, os futuros prisioneiros e guardas eram exatamente iguais, a única coisa que os pôs em lados opostos foi atirar uma moeda ao ar. Então os guardas não eram inerentemente piores que os prisioneiros, e não sabemos como teria agido cada um se as posições se tivessem invertido, mas não podemos dizer que os guardas não agiram objetivamente mal em situações desnecessárias. Também não podemos dizer que todos os guardas agiram da mesma maneira, portanto o que nos diz isto? Que o abuso de poder não vem do poder em si mas do abusador, que não é “O poder corrompe” mas,
o “O poder revela” e que o poder nos dá ou não a hipótese de seguirmos a nossa consciência ou os nossos impulsos mais retorcidos.O poder é liberdade, é a possibilidade de fazer algo que antes nos estava restringido sem termos consequências por isso, não nos obriga a fazer nada mas cria essa tentação (que eu não digo que seja fácil de ignorar). Mas o facto de tantos guardas, que eram pessoas como quaisquer outras e provavelmente não imaginariam fazer aquilo, terem cedido a esses impulsos significa que é quase impossível não aproveitar ao máximo essa liberdade e não aproveitarmos essa oportunidade para se superiorizarem. Significa que a necessidade de nos sentirmos superiores (que é a causa visível para os problemas da experiência) é, quase sempre mais forte do que a nossa consciência e do que os nossos valores. Significa que a necessidade de nos sentirmos superiores (que é a causa visível para os problemas da experiência) é, quase sempre mais forte do que a nossa consciência e do que os nossos valores. Concluindo, apesar de tudo, a experiência não foi um fracasso e evidencia categoricamente como lidamos com o poder e com o seu abuso, mostrando de maneira muito inteligente como reagiríamos de qualquer um dos lados.